Ambientalistas vão se mobilizar para impedir devastação da última faixa de restinga do litoral médio alagoano
Extra Alagoas - AL08/06/2010 - 20:32
Pressionado por uma onda crescente de protestos de estudantes, professores universitários, Ong's ambientalistas e entidades, o Conselho Estadual de Proteção Ambiental (CEPRAM) foi obrigado a retirar de pauta a apreciação do pedido de Licença de Implantação para o empreendimento imobiliário "Barra de São Miguel". O motivo dos protestos é a devastação da última faixa de restinga do litoral médio de Alagoas, pretendida pela empresa paulista que está por trás do empreendimento e quer construir dezenas de casas de luxo em local que, entre outros atributos, é área de desova de tartarugas marinhas.
A decisão do CEPRAM foi adotada na reunião ordinária do colegiado, realizada terça-feira, dia 1, no Palácio Zumbi dos Palmares, em conseqüência de pedido de vistas solicitado pelo representante do Sindicato dos Jornalistas, Carlos Roberto, e pela representante do Fórum de Defesa Ambiental, Eva Priscylla Barros. Ambos argumentaram a necessidade de ouvir a sociedade civil antes de votar o polêmico pedido da construtora.
Espécies raras de jacu, tartarugas mari-nhas e chupa-dente que se reproduzem na restinga do Francês, que pode desaparecer
Para viabilizar essa sugestão, o CEPRAM aprovou o próximo dia 14 de junho como data para o primeiro encontro da Comissão de Vistas do CEPRAM com especialistas da UFAL, ONG's e re-presentantes de entidades da sociedade civil que postulam a preservação da faixa de restinga que separa as praias do Francês e da Barra de São Miguel sob o argumento de que se trata de vegetação protegida pela legislação, além de local de pouso para aves de arribação e ativo paisagístico fundamental para o atrativo do turismo na região.
Presentes à reunião, ativistas da ONG Salsa de Praia e estudantes e professores do CESMAC e do CEFET de Marechal Deodoro consideraram absurda a pretensão da construtora paulista, principalmente porque 2010 foi declarado pela ONU como o Ano Internacional da Biodiversidade e este já é o quarto empreendimento consecutivo que, a pretexto de criação de empregos, está se implantando no litoral às custas da supressão de dezenas e dezenas de hectares de manguezais e daquilo que ainda resta das restingas de Alagoas.
"Se for preciso - disse um dos representantes dos estudantes faremos uma campanha nacional para denunciar mais esse crime ambiental patrocinado inexplicavelmente pelo próprio poder público e pelas autoridades que deveriam proteger o pouco que sobrou da ve-getação de restinga em Alagoas."
Segundo ele, os estudantes já recolheram mais de 5.000 assinaturas de protesto contra a supressão da faixa de restinga e pretendem chegar a 50 mil assinaturas até a reunião do dia 14 para enca-minhá-las posteriormente ao governador Téo Vilela, solicitando que os representantes das secretarias de Estado se opo-nham à supressão da restinga.
A ideia dos estudantes não agradou nem um pouco aos estrategistas da campanha do governador à reeleição. Segundo uma fonte do Palácio há o temor de que a oposição utilize o fato para apresentar a atual administração estadual como a maior patrocinadora de supressão de manguezais e restingas da história recente de Alagoas. Depois da destruição dos 10 hectares de manguezal exigidos pela duplicação da rodovia AL-101 Sul e dos mais de 100 hectares que serão sacrificados pelo estaleiro a ser implantado em Coruripe, os marqueteiros do governador consideram dose cavalar absorver o desgaste pela supressão do que ainda existe da restinga do Francês.
Seja como for, a votação da Licença de Implantação do mega condomínio denominado "Barra de São Miguel" vai dar o que falar, até porque o Ministério Público Federal já foi provocado pela comunidade que defende a restinga e deverá ingressar com Ação Civil Pública caso a empresa paulista não recue de sua pretensão, para garantir a maior parte do seu projeto, situado do outro lado da pista. Algo como dar os anéis para não perder os dedos.
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