quinta-feira, 29 de abril de 2010

Casca de banana descontamina água com metais pesados

Postado por Saneamento em 22 abril 2010 às 14:30
LILIAN MILENA

Química paulistana desenvolve método para descontaminação da água por urânio utilizando uma matéria simples e abundante no país: a casca de banana.

Milena Boniolo realizou o projeto no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) como proposta de mestrado, o que acabou lhe rendendo, em 2007, o primeiro lugar no 22º Prêmio Jovem Cientista, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O processo consiste em secar e triturar a casca da banana até que se torne um pó finíssimo e capaz de fazer ligações com o urânio. A água contaminada é misturada ao pó num tanque agitador – a ligação entre o material da casca e o urânio resulta num composto mais pesado que as moléculas da água que acabam se depositando no fundo do tanque.

Em testes laboratoriais, Boniolo conseguiu que 65% do urânio da água fosse retirado a cada 45 minutos no tanque agitador. Repetindo o processo é possível chegar a uma remoção próxima de 100%.

A ligação entre partículas da casca de banana e de urânio ocorre pelo fenômeno da atração entre cargas opostas. “Como as moléculas presentes nas cascas de banana tem carga negativa e os metais possuem carga positiva, ocorre uma ligação entre estas”, conta a cientista.

Ela ressalta que o processo é ideal para resíduos industriais. A descontaminação por urânio não deixa a água potável, ou seja, em condições para servir de consumo humano. Mas é capaz de atender aos níveis baixos de concentração de metais das águas descartadas pelas indústrias. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) exige às atividades poluidoras que tratem seus resíduos antes de lançá-los nos corpos hídricos ou na rede geral de esgotos.

Boniolo explica, ainda, que a biomassa pode fazer ligação com outros metais pesados como chumbo, mercúrio, cádmio e níquel, por exemplo. “A princípio você consegue atrair qualquer metal de carga positiva com o pó da casca de banana. Mas o percentual de remoção vai depender das propriedades físico-químicas de cada metal. Quanto maior for o elemento, menor o número total de ligações, e assim por diante”, completa.

A pesquisadora conta que já existem estudos com outras biomassas no Brasil, como cascas da laranja, do café e até com bagaço da cana. A Índia desenvolve trabalhos parecidos com a casca do arroz. A própria Boniolo participou de atividades com a fibra do côco, orientadas pela doutora Mitiko Yamura, antes do seu projeto de mestrado, mas que, segundo ela, tem operação mais complexa de processamento em relação ao que é conseguido a partir do resíduo da banana.

O composto final, isso é, o que resta da mistura do pó da banana com o urânio, pode ser separado para que o metal volte a ser reintroduzido à cadeia industrial. Existem dois processos para isso: no primeiro, o resíduo é disposto em um ambiente aberto para que, naturalmente, a banana se decomponha, restando apenas o urânio. Mas, se não houver área e tempo disponíveis para essa operação, é possível aplicar um ácido direto à mistura separando o metal para a indústria. O resíduo da banana, biodegradável, poderá ser depositado e decomposto num aterro.

Segundo Boniolo, não é difícil reunir material suficiente para produzir o pó de casca de banana a fim de conseguir aplicação em larga escala. Dentre suas propostas está o desenvolvimento de trabalhos no Vale do Ribeira. A região interiorana de São Paulo é grande produtora de banana e, com auxílio da mão de obra local, é possível montar oficinas de transformação da casca da fruta em pó. Outra ideia é trabalhar com os grandes produtores de resíduos alimentícios nas cidades, como as lojas de fast foods. “Estima-se que, diariamente, a grande São Paulo produza cerca de 4 toneladas de cascas de banana”, conta.

Hoje, Boniolo procura parcerias para que as pesquisas sejam realizadas em escalas condizentes às produções humanas. “Todos os nossos testes foram feitos em laboratório. E em química, quando você passa para uma escala maior, pode ser que as referências mudem”. A cientista completa que seriam necessários cerca de dois anos de estudos interdisciplinares para determinar a proporção correta entre a quantidade de pó de banana e o volume de água contaminada produzido nas industriais, dentre outras questões relevantes para a transferência da tecnologia estudada.

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