quarta-feira, 14 de abril de 2010

Construção de novo shopping na área do Lixão-Maceió causa espanto ao MPF-AL

13/04/2010 19:18

Grupo diz que obras já começam em julho

As empresas Multiplan Empreendimentos Imobiliários e Aliansce Shopping Centers S.A acabam de anunciar que até julho irão começar a construir um shopping na área onde hoje funciona o lixão de Maceió.
A notícia amplamente divulgada na imprensa já provoca reação por parte de ambientalistas e a procuradora federal, Niédja Káspari, do Ministério Público Federal, que se disse atenta ao desenrolar da questão.
O grupo que anunciou o shopping do lixão é forte, com muito dinheiro. A Aliansce tem mais de 20 shoppings no Brasil e sua principal acionária é a americana General Growth Properties (GGP). Já a Multiplan tem capital de fundo de pensão canadense, a Ontário Teachers Pension Plan, através da sua subsidiária Cadillac Fairview.
O grupo chegou a publicar nos jornais uma foto do terreno onde pretendem construir o empreendimento, praticamente anexo à montanha de lixo do atual depósito de resíduos de Maceió. As atividades do lixão deverão ser encerradas nos próximos dias, graças a uma ação do Ministério Público Federal, através da procuradora Niédja Káspari.
Para encerrar as atividades do lixão naquele local, a promotora fez valer uma lei federal que considera área de segurança aeronáutica todo perímetro nas imediações do aeroporto, num raio de 15 quilômetros em qualquer direção.
A aglomeração de urubus nas imediações traz risco à aviação, motivo pelo qual a Prefeitura de Maceió foi obrigada a destinar outro local para depositar o lixo da cidade.
A procuradora disse que a notícia da construção do shopping do lixão a surpreendeu. “Fiquei sabendo agora há pouco. Vocês me trouxeram este assunto.”, disse Niédja à nossa reportagem.
Ela lembra que para cumprir as várias exigências ambientais para se construir um empreendimento deste porte são necessários estudos de impacto ambiental, de impacto de vizinhança e de solo.
Ao ser questionada se todos esses estudos podem ser efetuados num tempo recorde, afim de que as obras comecem em julho, ela respondeu: “Acredito que não. Isso deve demorar meses e até um ano, dentro da rigorosidade desses estudos”.
Mostrando bastante cautela ao lidar com o assunto, a procuradora revelou que minutos antes de atender a nossa reportagem, cuja pauta havia sido adiantada para sua assessoria, ela deu um telefonema à Ernani Baracho, da Superintendência de Limpeza Urbana (Slum) do município de Maceió.
Niédja pediu informações sobre a possível tramitação de uma licença ambiental para a área do lixão ou imediações. Ela disse, também, que iria buscar mais informações e ficará atenta a qualquer situação que eventualmente exija intervenção do Ministério Público Federal.
MONTANHA DE LIXO É BOMBA RELÓGIO
O engenheiro ambiental Alder Flores também mostra preocupação com a notícia da instalação do shopping na área do lixão. Ele considera que os estudos a que a procuradora Niédja se refere têm que ser feitos com o tempo de pesquisa necessário – que não é pouco – e com os laudos exclusivamente técnicos, livre de qualquer tipo de pressão política ou financeira.
Alder Flores é o autor do estudo de impacto ambiental do atual lixão de Maceió. Em seu levantamento, ele mostra que no local são depositados resíduos industriais, hospitalares, todo tipo de lixo domiciliar e lixo público. O relatório dele também considera que como a área recebe resíduos sólidos de várias partes do município, sem acompanhamento detalhado, também pode estar estocando material radioativo.“Se é difícil imaginar a construção de um shopping expondo seus visitantes as moscas e roedores vindos da montanha de lixo vizinha, quem sabe seja mais fácil imaginar que o sub-solo pode estar contaminado com a água podre da decomposição do lixo. Este líquido, também chamado de xurume, penetra na terra até atingir o lençol freático, e alcançar os poços da vizinhança. Daí a necessidade do estudo do solo” explicou.
Mas isto não é tão rápido quando se anuncia nas reportagens que a Multiplan e Aliansce publicaram na imprensa, adiantando inclusive que já vão começar as vendas dos espaços logísticos.
Assim como os estudos de impacto ambiental e de vizinhança. Detalhar o que pode estar contaminado debaixo da terra, e todos seus riscos de abrangência, exige a contratação de profissionais como geólogos e consome até anos de pesquisa.
Ainda segundo o relatório do engenheiro Alder Flores, o que acontece atualmente é que com a água da chuva o xurume escorre também pela drenagem natural até as águas do Riacho das águas do Ferro, e que acaba desaguando na praia de Cruz das Almas, há mais de dois quilômetros de distância.
O estudo do engenheiro Alder Flores coloca o lixão de Maceió em situação de risco semelhante à que todo país tem assistido sobre o que aconteceu em Niterói, no morro do Bumba, no do Rio de Janeiro.
Em um trecho de seu relatório, o engenheiro revela que “durante o inverno ocorrem dificuldades operacionais, e os resíduos permanecem a céu aberto sem nenhum recobrimento com terra. Devido à insuficiente compactação dos resíduos, em épocas de chuva, é comum o desmoronamento de parte dos taludes.
Além do desmoronamento, o gás metano, altamente inflamável e produzido durante o processo de decomposição do lixo, também é uma preocupação a se considerar.
Pois segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo (www.estadao.com.br/cidades), no último dia 7 de abril, a Secretaria de Meio Ambiente de Niterói revelou que foi a explosão do gás metano que causou o deslizamento e as mortes no Morro do Bumba.
Nós tentamos contato com as empresas Multiplan e Aliansce, através de suas assessorias de imprensa. Mas não obtivemos resposta.
http://www.cadaminuto.com.br/index.php/noticia/2010/04/13/anuncio-da-construcao-de-novo-shopping-na-area-do-lixao-causa-espanto-ao-mpf

Nenhum comentário:

Postar um comentário